
Esta semana, na Wise Wave, trazemos uma entrevista exclusiva com a Liga Street Rage, um movimento que tem promovido as batalhas de Rap na zona centro. Criada em 2023, a liga nasceu para unir cidades e dar espaço a novos MCs, enfrenta desafios como a falta de apoios e o preconceito em torno do rap. Na entrevista, falamos sobre o impacto da liga, os desafios enfrentados, a importância de dar espaço a novos MCs e os planos para o futuro, como uma possível tour e um grande evento em Lisboa em 2025.
Wise Wave: Como surgiu a ideia de criar a Liga Street Rage?
Liga Street Rage: A liga nasce em 2023 , depois da estreia do João (CPJ) , na Liga Knockout. Mesmo não sendo nascido ou criado na zona centro , nomeadamente Entroncamento , onde criámos a liga, ele teve essa iniciativa de ir e de dizer que era do Entroncamento.
Sentimos já há algum tempo que a zona centro ficou sem grandes iniciativas e que seria muito bom tentar unir cidades e projetos através das batalhas. Começámos por procurar alguns nomes dentro do nosso “pequeno” meio e a incentivar a malta a experimentar as batalhas.
Desde aí, já lançámos alguns nomes como EDC, Só Gui , Filtro e mais virão.
Wise Wave: Quais são os principais objetivos da liga?
Liga Street Rage : Esta resposta podemos dividir em dois pontos , o primeiro e talvez o nosso maior objetivo passa por dar oportunidade a todos os que queiram batalhar.
É normal que as coisas possam não correr tao bem inicialmente, somos seres humanos, por vezes falhamos e não é por isso que não existe qualidade.
Então procuramos que a malta se sinta em casa e que continue a trabalhar e a acreditar na sua arte.
O segundo ponto, é tornar a liga uma iniciativa estável, com bases para conseguirmos trazer qualidade em todos os eventos.



Wise Wave: Quais têm sido os maiores desafios em organizar batalhas de rap?
Liga Street Rage: (Abrir mentes) Ainda existe um certo preconceito com o RAP e com as batalhas . As pessoas não conhecem, então a palavra RAP além de fazer comichão, ainda lhe é associada a palavra Batalhas que agrava um pouco a coisa.
(Localização) É um conceito novo dentro da nossa bolha, o que levará o seu tempo para atrair as pessoas.
(Apoios financeiros) Sabemos que as batalhas se profissionalizaram e que o trabalho dos MC’s tem de ser valorizado, mas, para isso também precisas de público e quando o público está habituado a não “pagar”, para assistir ao que quer que seja, fica complicado. Não existe também nenhum fundo , os patrocinadores não querem investir em grandes nomes porque o retorno é uma “miragem”. O apoio à cultura, basicamente não tem espaço para o RAP e aliga não funciona apenas como liga de batalhas, existem “aulas” e projetos com pessoas que sentem necessidade de ajuda para desenvolver algumas capacidades, existem projetos com crianças que temos acompanhado e tudo isto nos dá imenso gosto. Em Novembro criámos uma edição gratuita de apoio aos bombeiros. Não havia valores envolvidos, quem quisesse ir ao evento , levava o que quisesse e ajudava como entendesse, era uma iniciativa solitária . Não chegou a acontecer. Cortaram-nos as pernas.
Queríamos o público a aderir a iniciativa solidária, ficaria a conhecer-nos e aí, talvez chegássemos a mais público e conseguíssemos desmistificar a ideia de que o RAP é problemático.
Wise Wave: A liga já contou com participações de artistas conhecidos no battle rap, sentiram que isso foi uma alavanca para a expansão da liga?
Liga Street Rage: Sem dúvida, termos nomes como o Sadyko e o LC, que foram os nomes mais conhecidos que passaram na nossa liga , ajudou -nos imenso a ganhar credibilidade e a atrair o maior número de pessoas. Era necessário trazer experiência e elevar a qualidade do que tínhamos feito e foi óptimo sentir que aquele é o nosso caminho. Com eles vieram outros nomes como o Relvas, Spitz que veio assistir, Mk’, Lendária como jurada. Já tivemos o Moreira , RLP , Vazzzz . Tentamos sempre equilibrar as coisas e somos muito gratos a todos os que têm grito a viagem conosco e nos permitem crescer. O evento First Roar foi prova disso. Relembrar que esse evento os MC’s não tinham cachet pago por nós, aceitaram vir pela iniciativa. Somos muito gratos por tudo o que nos deram.


Wise Wave: Como selecionam os MCs para as batalhas?
Liga Street Rage: Não é fácil, porque nem todos aceitam batalhar com as poucas condições que podemos oferecer.
Além dos cachês dos Mc’s, temos trabalhos de fotografia, temos espaço, gostamos de contar com um bar de boas vindas para os artistas de forma a conseguir respeitar o trabalho deles pois sabemos que os valores envolvidos, não são os que praticam noutras ligas já estabilizadas.
Então basicamente as pessoas procuram-nos, querem batalhar , dizem quem querem e nós tentamos criar essas batalhas dentro das nossas possibilidades.
Acabamos por repetir nomes em todas as edições , mas são essas pessoas que mantêm o nosso trabalho vivo.
Seria difícil sem o esforço e o orgulho deles em representar a iniciativa.
Wise Wave: Existe algum critério específico para escolher os jurados?
Liga Street Rage: Não, os jurados tivemos uma única vez e tentámos atrair pessoas com influência no Game , mas lá está, todos têm o seu preço , não desmerecendo claro. Numa das edições optamos por jurados como MK’ e Lendária pela caminhada e pelo nome que têm no RAP tuga. Dentro do que se conhece na nossa zona de conforto, são nomes que todos já ouviram e para os artistas é bom estas visões experientes que provavelmente ajudarão a melhorar o trabalho deles.
Wise Wave: Como tem sido a recepção do público na zona centro?
Liga Street Rage: Difícil, tal como respondemos numa pergunta anterior, é muito complicado atrair as pessoas a este pequeno nicho. Ou metemos sempre os mesmos nomes a batalhar , que são os que a malta acompanha , ou então temos grandes dificuldades em ter eventos a pagar na nossa zona. Não temos uma rede de transportes acessível dentro da zona e ainda não conseguimos ligar as outras cidades. Santarém, Leiria, Coimbra por exemplo, que são cidades enormes, não têm grande forma de chegar a nós. Ou vens no teu carro e percorres umas centenas de Kilometros ou prepara-te para chegar no dia seguinte a casa. Não é fácil, daí querermos estar noutras cidades e darmo-nos a conhecer.


Wise Wave: Acreditam que a liga contribui para a valorização do rap português?
Liga Street Rage: Sinceramente acho que toda e qualquer iniciativa que potencia arte, contribui positivamente para o movimento. Temos cada vez mais MV’s a mostrar-se. Temos malta oldschool a começar a ter o bichinho pelas batalhas. Temos crianças a aprender português com alguns dos nossos MC’s em iniciativas mais fechadas. Penso que o facto de criar oportunidade de cada um mostrar o que tem é sempre uma mais valia para a valorização do RAP português. A intervenção, a cooperação e o compromisso de nos apoiarmos e não de cortar ou amarrar as asas de quem quer voar.
Wise Wave: Como tem sido expandir o alcance das batalhas da Street Rage para outras cidades?
Liga Street Rage: É algo que estamos agora a equacionar. Sentimos que em Sines existiu muita gente que nos foi visitar, mas, sempre escondidos, por detrás das câmaras , que leva a pensar que o evento foi fraquinho, mas para o que estava a espera,foi óptimo. Tivemos cerca de 70/80 pessoas no evento,de todas as idades, fomos super bem recebidos, criou-se um ambiente brutal no final com rodas de free. Foi óptimo e mostrou-nos que é esse o caminho. Levar a liga onde pudermos e criar o melhor evento possível . Um passo de cada vez.
Wise Wave: Pensam em realizar eventos especiais, como torneios ou colaborações com outras ligas?
Liga Street Rage: Tentámos eventos com Rodas de freestyle mas não avançou. Tivemos oportunidade de fazer um evento Norte vs Sul com a multiversos , mas não tínhamos condições de o fazer . Queríamos muito um evento na zona centro com a Liga Knockout. Já falámos sobre isso , mas ainda não houveram grandes avanços. Queríamos ter uma batalha dentro desse evento com a nossa marca. Sabemos que a Liga Knockout um impacto enorme onde passa e estarmos associados, leva a que ganhemos credibilidade pelo menos dentro da nossa bolha. Sabemos que muitas pessoas nem sabem da nossa existência. Temos também enviado alguns nomes para a academia KO e isso ajuda á nossa divulgação. Estamos a trabalhar numa Tour Liga Street Rage e a tentar ter batalhas em algumas festas académicas. No fundo, conseguir chegar a outras cidades , a outro tipo de público, colocando a responsabilidade dos valores nas associações de estudantes. Sabemos que não vai ser fácil mas se conseguirmos ter 5/ 6 batalhas , já nos dará alavancagem para um grande evento que gostaríamos de fazer em Lisboa neste anos de 2025.
Wise Wave: Quais são as metas para o próximo ano?
Liga Street Rage: Queremos investir em material de qualidade. Som e imagem são cruciais para ganhar credibilidade. Queremos fazer a nossa estreia em Lisboa e contar com batalhas que todos queiram ver. Sentimos que tem de ser um ano de mudança e trabalharemos nesse sentido.

